Bancos “descobrem” que seu modelo de gestão afeta a saúde mental dos trabalhadores
11 de abril 2024
Comando Nacional
dos Bancários e Coletivo Nacional de Saúde da Contraf-CUT se reuniram com
Fenaban
O Comando Nacional
dos Bancários, juntamente com o Coletivo Nacional de Saúde da Contraf-CUT (Confederação
Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), apresentou, na manhã desta
quinta-feira (11/04), os resultados da pesquisa “Avaliação dos Modelos de Gestão
e das Patologias do Trabalho Bancário”, realizada pela Secretaria de Saúde do
Trabalhador da Contraf-CUT, em colaboração com pesquisadores do Instituto de
Psicologia da UNB (Universidade de Brasília), para a Fenaban (Federação
Nacional dos Bancos).
Entre muitos dados
impactantes, os que mais chamam atenção é que cerca de 80% dos trabalhadores do
ramo financeiro declaram ter tido pelo menos um problema de saúde relacionado
ao trabalho no último ano. Deles, quase metade está em acompanhamento psiquiátrico.
O principal motivo declarado para buscar tratamento médico foi o trabalho.
Entre os que estão em acompanhamento psiquiátrico, 91,5% estão utilizando
medicações prescritas pelo psiquiatra, um percentual que cai para 64,4% entre
os que estão em outros tipos de acompanhamentos médicos.
Segundo a pesquisa,
o atual modelo não apenas dita as condições laborais, mas também é identificado
como uma fonte substancial de psicopatologias, que potencialmente distorcem a
subjetividade e os laços sociais dos funcionários, o que resulta em sintomas de
adoecimento e agravos à saúde mental.
Cultura do produtivismo adoece
A coordenadora da
pesquisa, doutora Ana Magnólia Mendes, explicou que as análises indicam a
presença intensa de discursos e práticas de controle, caracterizadas pelo foco
nas metas, o controle exacerbado, a despersonalização dos trabalhadores, a
presença de uma hierarquia rígida e o uso de ameaças como ferramentas de gestão
intensifica, por sua vez, a competitividade e o produtivismo nas relações de
trabalho e a presença de vivências de violência no trabalho e de sobrecarga.
“Também a presença intensa de relações competitivas, marcadas pela exclusão dos
funcionários na tomada de decisão da organização, pelo cerceamento da autonomia
no trabalho, pela distribuição injusta, pela indefinição de tarefas e pela
presença de disputas profissionais no local de trabalho estimuladas pela
chefia, intensificam a violência no trabalho”, completou Ana Magnólia.
De acordo com a
doutora, a presença intensa de relações produtivistas, por sua vez, intensifica
a sobrecarga no trabalho. “Essas relações produtivistas, conforme descrito pela
amostra, são caracterizadas pelo foco em metas, pela cobrança por resultados,
pela pressão intensificada pela vigilância de resultados e também pela
insuficiência de pessoas para realizar as tarefas, o que contribui para um
ritmo de trabalho excessivo”, afirmou.
“Essas relações
produzem as patologias da violência e da sobrecarga, caracterizadas pela
presença intensa de vivências de cansaço, desgaste, sobrecarga, frustração,
desmotivação, falta de liberdade de expressão e de opções no trabalho,
indiferença entre colegas e desconfiança entre chefia e subordinados, as quais
aumentam a presença de sintomas de adoecimento marcados por características de
transtornos ansiosos”, completou Ana Magnólia Mendes.
O estudo, que
contou com a participação de 5.803 bancários em todo o Brasil, revelou a
presença intensa de fatores de risco do trabalho bancário, bem como uma alta
ocorrência de sintomas de adoecimento entre os trabalhadores. Para o secretário
de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, os resultados trouxeram à tona
preocupações significativas sobre os impactos do modelo de gestão adotado pelos
bancos na saúde mental dos trabalhadores. “Diante desse cenário, torna-se
imperativo agir de forma imediata sobre os fatores críticos, buscando
modificá-los, e melhorar as condições laborais”, avaliou Salles.
“O estudo realizado
pela Contraf-CUT ressalta a urgência de compreender e abordar os efeitos
danosos do modelo de gestão dos bancos na saúde mental dos trabalhadores. A
implementação de medidas preventivas e intervenções adequadas se faz essencial
para assegurar um ambiente de trabalho saudável e seguro para todos os
bancários”, finalizou o secretário.
Repostas às reivindicações
Os representantes
dos trabalhadores aproveitaram o encontro para cobrar algumas respostas das
reivindicações apresentadas à Fenaban no último encontro, como a modernização
da cláusula 61 da Convenção Coletiva de Trabalho, que trata de prevenção de
conflitos, e o fluxo de acolhimento aos trabalhadores adoecidos.
Os bancos pediram
um prazo maior para os retornos. “Na última reunião eles haviam se comprometido
a nos retornar e, agora, pediram um prazo maior. Isso frustrou nossa expectativa,
mas daremos mais um voto de confiança”, lamentou Mauro. “Os dados apresentados
hoje reforçam a importância das reivindicações apresentadas aos bancos em
reação às metas abusivas, assédio moral e a necessidade de um acolhimento
humanizado aos trabalhadores adoecidos”, finalizou Mauro.
A próxima reunião
deve ser realizada ainda em abril.
Fonte: Contraf-CUT