Brasil precisa de política para a reindustrialização, apontam entidades sindicais

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20 de setembro 2022

A IndustriALL-Brasil realizou na quarta-feira (14/09) o Seminário “Futuro da Indústria: Desafios da Política Industrial”, na sede da CUT, no centro da capital paulista. O evento contou com a participação de dirigentes sindicais e trabalhadores dos mais diferentes setores da indústria. Economista e técnico do Dieese (Departamento Intersindical Estatística e Estudos Socioeconômicos), Altair Garcia falou sobre o panorama da indústria brasileira, especificamente sobre a indústria paulista. “Precisamos discutir alternativas para os próximos anos. Não só a política industrial, mas os desdobramentos da política industrial e da reindustrialização no Brasil. Esse tema é fundamental para pensar o desenvolvimento e as repercussões que a indústria pode ter do ponto de vista dos rumos do país, seja do ponto de vista ambiental como da geração de empregos”. Já o plano Indústria 10+, que busca, entre diversos objetivos, a articulação das políticas públicas de desenvolvimento produtivo com a promoção da indústria nacional, foi apresentado pelo sociólogo Douglas Ferreira, também técnico do Dieese. Precarização do setor “O plano tem entre os seus objetivos a articulação de uma política industrial nacional que promova a geração de empregos de qualidade, enfrentando a desigualdade e produzindo inovações no desenvolvimento tecnológico”. Ferreira também destacou que existe uma carência de política industrial no Brasil e estruturas de ciência e tecnologia precarizadas. Além disso, há a desindustrialização, processo acentuado a partir de 2016 com o golpe. Segundo ele, o País passa por uma dificuldade de reverter o processo de primarização da economia, de desindustrialização. “Existe um projeto de ter só um setor no Brasil, que é o do agro. E os trabalhadores da indústria estão se organizando, existe uma necessidade de intervir nesse processo político eleitoral justamente para poder avançar na industrialização para fazer um Brasil mais rico, mais diverso, com mais soberania produtiva e alimentando a população em todos os sentidos que ela precisa”. Grupos de discussão O debate também contou com contribuições de GTs (Grupos de Trabalho) organizados durante o Seminário. A partir dos GTs, os dirigentes apontaram a dificuldade na busca de mão de obra qualificada, alinhada às baixas remunerações, a importância de envolver e conscientizar os empresários sobre o debate, a necessidade de pautar a questão da transição justa com foco na sustentabilidade, a mobilidade urbana e a discussão do planejamento territorial. Os dirigentes também destacaram a importância do debate realizado pela entidade para a difusão de conhecimentos nas fábricas e para a sociedade. O presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo da Silva, entende que a discussão regional da indústria deve ser realizada com o envolvimento dos mais diversos setores. “A IndustriALL-Brasil nasce justamente com esse objetivo, buscando o diálogo e a sinergia de todo este acúmulo gerado pelo debate dos setores e das regiões”, comentou Aroaldo. Cida Trajano, presidente da CNTRV-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo do Vestuário), destacou a importância do debate entre as Centrais Sindicais e a necessidade do foco na sustentabilidade. “É de grande relevância que as duas maiores Centrais Sindicais do País, em conjunto com diversas outras entidades, estejam juntas nesse debate da indústria. Acredito que será dessa forma que conseguiremos implantar uma política industrial forte no Brasil, com o destaque para a questão ambiental, que devemos trabalhar junto ao desenvolvimento e à inovação”, disse Cida. Para a presidente da CUT-SP, Telma Victor, a articulação resultará em avanços sociais, tecnológicos, de inovação e de fortalecimento nacional. “Esse debate está ligado não só à questão do emprego e da sobrevivência das famílias, mas, sobretudo, ao desenvolvimento dos mais diversos setores, garantindo o fortalecimento produtivo, a pauta sustentável e a modernização tecnológica”. Vice-presidente do Sindicato dos Empregados nas Empresas de Refeições Coletivas no ABCDMRP, Leni Costa dos Santos falou também sobre sua preocupação com relação ao ramo da alimentação e as dificuldades nas negociações com empresários. "É alto o número de adoecimentos no setor e quando chega a aposentadoria, ou mesmo antes dela, os trabalhadores já não aguentam fazer mais nada. Não tem como um robô cozinhar ou fazer o manuseio dos alimentos, por exemplo. As nossas cozinhas estão nas grandes indústrias e temos pensando muito sobre isso. Além da realidade das merendeiras que fazem as comidas nas escolas”, afirma Leni, que é também secretária da Mulher Trabalhadora da Contac-CUT (Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação). O debate realizado na CUT integra um projeto que visa percorrer diversos estados para diagnosticar os problemas da indústria brasileira por meio das realidades regionais. Realizado em parceria com a Sask (Suomen Ammattiliittojen Solidaarisuuskeskus) e IndustriALL Global Union, o plano conta com o apoio do Dieese, responsável por apresentar os panoramas da indústria brasileira com os recortes regionais de cada estado. Além de São Paulo, Porto Alegre (RS), Itapema (SC), Goiânia (GO) e Contagem (MG) já receberam o seminário. Por Lucas Rogério e Vanessa Ramos/CUT-SP