Câmara dos Deputados tira de pauta o PL contra fake news
11 de abril 2024
O PL (Projeto de
Lei) 2630/2020, que regulamenta as plataformas de redes sociais, voltou à
estaca zero na Câmara dos Deputados. Na terça-feira (9/04), o presidente da
casa, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que será formado um grupo de trabalho para sistematizar
a matéria, antes de que seja enviada para votação em plenário.
O PL 2630 já tinha parecer do relator Orlando Silva (PCdoB). Porém, em reunião
de líderes, Lira disse que não havia consenso para que a matéria fosse
apreciada em plenário. Orlando Silva disse que foi surpreendido com a decisão.
Em nota, ele disse ter “orgulho do trabalho feito até aqui, que contou com uma
contribuição extraordinária da sociedade civil, de movimentos sociais,
especialistas, do governo, de representantes de organizações internacionais e
da qualificada consultoria da Casa”.
O parlamentar diz ainda que enfrentar essa questão é fundamental e um desafio
para o Brasil, que “exige convicção e ação de forças políticas e sociais
comprometidas com valores democráticos. A omissão pode nos cobrar um preço
elevado”.
Conhecida como PL das Fake News, a proposta é vista por entidades
de representação de trabalhadores e por movimentos sociais como fundamental
para evitar que conteúdo abusivo, inverídico, violento e manipulador seja
veiculado sem nenhum tipo de controle.
O debate sobre o tema ganhou força desde sábado (6), com uma série de agressões
do empresário-especulador Elon Musk ao ministro do STF (Supremo Tribunal
Federal), Alexandre de Moraes, dizendo que o magistrado brasileiro atenta
contra a Constituição em suas decisões que, na verdade, buscam cercear os
discursos golpistas difundidos pela rede social X (ex-Twitter), de propriedade
de Musk.
Como afirma o secretário de Relações do Trabalho da Contraf-CUT (Confederação
Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Jefferson Meira, o Jefão, “o
projeto estava pronto para votação e deveria ter ido a votação em plenário há
muito tempo”. Jefão, que acompanha a pauta de interesse da Classe Trabalhadora
no Congresso Nacional como representante da Contraf-CUT, pontua que “políticos
que se beneficiam de informações falsas nas redes se articularam para impedir a
tramitação e a aprovação do projeto”.
Jefão conta, ainda, que “embora não se diga nada abertamente, as bancadas
progressistas, de parlamentares que defendiam a aprovação do PL, relatam que
o lobby para derrubar a proposta sempre foi muito forte e que,
mais que ideológico, esse lobby é financeiro, bancado por
grupos poderosos”.
Diante desse cenário, o dirigente da Contraf-CUT entende que trabalhadores e
organizações populares devem se organizar para a defesa de uma regulamentação
civilizada da questão. “Defendemos que a liberdade de expressão seja preservada
e valorizada, mas ela não pode ser confundida com um direito de difundir
mentiras e ataques à democracia”, afirma. Segundo seu entendimento, “é essa
regulação que vai garantir que o Brasil não seja tratado como a terra de
ninguém pelas plataformas e redes sociais, que terão que atuar com
responsabilidade e responder legalmente por condutas nocivas à sociedade”.
O PL 2630
Já votado no Senado
Federal em 2020, o texto define regras para a atuação das redes sociais no
país. No entanto, a apreciação do PL foi sistematicamente adiada pela Câmara. A
proposta traz diversos pontos importantes. O primeiro prevê que as plataformas
serão responsabilizadas por conteúdos postados por usuários, com uso de
instrumentos pagos de impulsionamento e publicidade, quando for comprovado que
a empresa ignorou riscos e deixou de usar mecanismos de moderação. As empresas
também passam a ter o chamado dever de cuidado, ou seja, protocolos de análise
de risco, que deverão prevenir ou mitigar casos como disseminação de conteúdos
contra a democracia, por exemplo.
Conforme os termos do PL, as plataformas deveriam cumprir, em até 24 horas,
toda decisão judicial que determinasse a derrubada de qualquer conteúdo
criminoso. Nesse caso, as multas seriam salgadas e poderiam chegar a R$ 1
milhão por hora. Por fim, também eram definidas punições a serem aplicadas, que
incluíam advertência, multa diária que poderia bater os R$ 50 milhões e a
suspensão das atividades no Brasil.
Falas raivosas de Musk
O dono do X
publicou questões retóricas, como “por que tanta censura no Brasil?” Em
seguida, palreou que o “ministro tem traído repetida e descaradamente a
Constituição e o povo do Brasil. Ele deve renunciar ou sofrer impeachment”. Na
segunda (8), voltou a atacar Alexandre de Moraes, que também é presidente do (Tribunal
Superior Eleitoral), chamando-o de ditador, e também incluiu em suas falas
raivosas violentas fake news contra o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
A manifestação começou depois que um jornalista estadunidense publicou, no dia
3, uma série de prints de um diretor jurídico do então Twitter, relativos a
pedidos para acesso a dados de usuários e de retirada do ar de publicações da
rede social, feitos pelo Congresso Nacional, pelo Ministério Público e pelo
Judiciário. As postagens questionadas pelos órgãos de autoridade brasileiros
difundiam mentiras para descreditar o sistema eleitoral do país ou conteúdos de
incentivo à violência e preconceituosos, além de desinformações sobre questões
de saúde pública.
A investida irada de Musk estimulou as fábricas de fake news da
extrema direita brasileira, que passou a promover grande campanha contra as
instituições do Brasil. Especialistas têm afirmado na imprensa que outro motivo
está por trás do caso: a busca de visibilidade, para reverter a perda de valor
de mercado do X. Desde que Musk a comprou, em outubro de 2022, a rede social
viu seu valor de mercado despencar ribanceira abaixo, de US$ 44 bilhões a US$
12,5 bilhões –desvalorização de 70%. A Tesla, fabricante de veículos elétricos
de Musk, também está em forte crise.
Reações
As reações foram
muitas e unânimes em observar na atitude desequilibrada do dono do X uma
afronta à soberania brasileira. O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), resumiu que “no final das contas é uma busca indiscriminada,
antiética e criminosa pelo lucro, e isso, obviamente, tem que ser contido por
lei e esse é nosso papel enquanto Congresso Nacional”. O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), Roberto Barroso, “toda e qualquer empresa que opere no
Brasil está sujeita à Constituição Federal, às leis e às decisões das
autoridades brasileiras”. Barroso também garantiu que “decisões judiciais podem
ser objeto de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado. Essa é uma
regra mundial do Estado de Direito e que faremos prevalecer no Brasil.”
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Fonte: Contraf-CUT