Contraf-CUT lança caderno sobre a conquista do teletrabalho
23 de abril 2024
Da direita para a
esquerda: Elias Jordão, Lourival Rodrigues e Gustavo Cavarzan
A Contraf-CUT (Confederação
Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) lançou, nesta terça-feira (23/04),
em São Paulo, o caderno Teletrabalho – direitos e conquistas da
categoria bancária. A publicação reúne todas as informações a respeito do
trabalho à distância, como direitos conquistados pelos bancários na Campanha
Nacional de 2022, cuidados com a saúde, convivência entre as pessoas na
residência, controle de jornada e respeito à desconexão, entre tantas outras.
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questões jurídicas do ramo financeiro
O processo que levou até a construção da cartilha, lançada durante o 4º Seminário
Jurídico Nacional da Contraf-CUT, começou a partir de duas
amplas pesquisas do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos), a pedido do movimento sindical bancário.
O doutor em economia e técnico da subseção do Dieese na Contraf-CUT, Gustavo
Cavarzan, destacou que a primeira pesquisa foi realizada em junho de 2020 e a
segunda em 2021, e respondidas por 11 mil e 13 mil bancários e bancários,
respectivamente.
“Consideramos que, nos dois casos, as pesquisas foram um sucesso, pelo
volume de entrevistados que conseguimos, considerando o tamanho das
mesmas (a primeira com 33 questões e a segunda com 37 questões)”, observou,
completando que, a partir dos dois trabalhos, realizados no espaço de um ano,
foi possível estabelecer um cenário das condições do teletrabalho na categoria
bancária e, com isso, ter respaldo para as reivindicações que levaram à
conquista das cláusulas sobre Teletrabalho, na Convenção Coletiva da categoria,
em 2022.
O secretário de Comunicação da Contraf-CUT, Elias Jordão, reforçou a
importância do material. “A cartilha foi pensada para ser clara e objetiva,
mesmo tendo sistematizado um material amplo e complexo, produzido pelo Dieese,
e isso para ser compartilhado com diversos públicos. Entendemos que esse
material é fundamental, porque as conquistas e as lutas que levaram às das
cláusulas de teletrabalho, servem como exemplo para outras categorias”,
destacou.
Acesse aqui o
caderno Teletrabalho – direitos e conquistas da categoria bancária.
O assessor jurídico
da Contraf-CUT, Jefferson Oliveira, enalteceu que as conquistas das cláusulas,
via CCT, que resultaram nas medidas que protegem os direitos dos trabalhadores
bancários em home-office, não devem ser restritas aos trabalhadores
da categoria. “Por isso, nós pedimos o apoio de todos e todas para apresentar
este material nos tribunais e procuradorias regionais do trabalho”, concluiu.
Contexto
O teletrabalho, que
crescia lentamente nos últimos anos, ganhou força com a chegada da Covid-19. No
setor financeiro, o movimento sindical atuou para que o regime fosse adotado,
com o objetivo de proteger vidas de trabalhadores e clientes.
Muitos bancários e bancárias migraram para o trabalho à distância, mas na
correria da emergência sanitária, isso se deu sem adaptação ou planejamento. A
Contraf-CUT e outras entidades de representação da categoria se mobilizaram
para negociar com os bancos as condições necessárias para a nova situação.
Histórico
Ainda em março de
2020, logo na chegada da pandemia, a categoria passou a ser consultada sobre
medidas necessárias. Em seguida, foi instituída a Mesa Permanente Covid-19.
Foram mais de 50 rodadas de negociação com os bancos, pois além dos cuidados
com a saúde, também era necessário que direitos e conquistas fossem garantidos.
Já nesse primeiro momento, identificou-se que em casa, em geral, havia falta de
espaço e de equipamentos adequados, isolamento, inexistência de controle da
jornada e alta dos custos residenciais – este último item associado à redução
das despesas dos bancos.
Entre bancários e bancárias, surgiam relatos de dores musculares e nas
articulações, preocupação, insônia, agravamento de doenças pré-existentes,
barulho na vizinhança, internet ruim, falta de orientações e de ferramentas
para gestão e extensão da jornada. Da mesma forma, estava se tornando comum que
chefes ligassem à noite para fazer reunião.
Pesquisas, feitas em parceria com o Dieese, confirmaram as grandes dificuldades
que a categoria enfrentava. Os estudos indicaram que a atenção deveria ser
redobrada na saúde física e mental, no controle da jornada, no respeito à
rotina doméstica e na convivência familiar.
Negociação e conquistas
Em 2020, primeiro
ano da pandemia, as condições necessárias ao teletrabalho foram exigidas pela
categoria, com vários acordos fechados banco a banco. Na Campanha Nacional de
2022 vieram as grandes conquistas.
A nova CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) contemplou 12 cláusulas, que
garantem a saúde e a dignidade do trabalhador no trabalho remoto. No conjunto,
elas abrangem direitos, ambiente doméstico, equipamentos e mobiliário
adequados, respeito à jornada, auxílio financeiro para compensar o aumento de gastos
em casa e prevenção a abusos e assédio.
As muitas conquistas incluem obrigatoriedade do registro de ponto, direito à
desconexão, intervalos para refeição e férias, igualdade de direitos com o
trabalho presencial, vale-transporte em regime híbrido, fornecimento de
equipamentos pelo banco, treinamento de gestores para evitar abusos de
cobranças e assédio, mesa permanente bipartite para acompanhar o cumprimento de
acordos, proteção à bancária vítima de violência doméstica e o estabelecimento
de um canal para as demandas do trabalho remoto, entre outras.
Saúde
Todas as instruções
para promover a saúde do trabalhador passaram a ser expressamente de
responsabilidade do empregador. As medidas incluem exame médico periódico
adaptado e orientações sobre ambiente, equilíbrio entre vida pessoal e
profissional e saúde emocional.
A ergonomia – ou seja: equipamentos, instalações e postura físico-corporal para
as atividades profissionais – deve ser orientada pelo banco e seguida pelo
bancário e pelas bancárias em trabalho remoto. Da mesma forma, outras atitudes
devem ser seguidas ao longo do dia, para garantir o bem-estar e evitar
acidentes de trabalho, a fadiga e o estresse.
Exemplo
A presidenta da
Contraf-CUT, Juvandia Moreira, avaliou que “a representação sindical bancária
teve atuação olímpica nessa negociação: agiu de imediato, quando a emergência
sanitária se impunha, exigiu dos bancos instalações e equipamentos necessários
à medida que o regime crescia e empenhou-se em conhecer cientificamente o novo
cenário e identificar todas as suas consequências e implicações”.
Para ela, “foram essa preparação e essa organização que garantiram, nas mesas
com os bancos, todos os direitos trabalhistas e as condições necessárias para o
teletrabalho”. A dirigente ressalta, ainda, que “o acordo foi uma grande
conquista, não apenas da categoria, mas de toda a classe trabalhadora, pois as
12 cláusulas se tornaram um exemplo de acordos sobre o trabalho remoto para
todos os setores da economia”.
Juvandia, que também é vice-presidenta da CUT (Central Única dos Trabalhadores),
observou que “pela abrangência e consistência, os termos do teletrabalho da CCT
da categoria bancária também passaram a ser vistos como referência para a
regulamentação legal do regime no Brasil, que até o momento foi tratado de modo
precário, tanto na reforma trabalhista de 2017 como em outras normas, pois não
trazem garantias ao trabalhador”.
A divulgação em detalhes, tanto dos passos da negociação como das conquistas,
no caderno Teletrabalho – direitos e conquistas da categoria bancária,
conforme Juvandia, “busca a difusão de uma experiência bem sucedida ao
movimento sindical como um todo. É uma maneira de compartilharmos com outras
entidades um avanço que tem sido de grande importância para nossa categoria”.
Assista vídeo
Teletrabalho: uma conquista do movimento sindical bancário:
Fonte: Contraf-CUT