Movimento sindical denuncia abusos do Santander em Assembleia Mundial de Acionistas
22 de março 2024
Durante a Assembleia
Mundial dos Acionistas do Santander, realizada nesta sexta-feira (22/03), na
Espanha, o movimento sindical brasileiro denunciou os abusos e desrespeitos que
a filial brasileira do grupo pratica contra os trabalhadores brasileiros e a
população do país, que respondem por 17% do lucro global do conglomerado
espanhol. A manifestação ocorreu na presença da presidenta do banco, Ana Botín.
“Fraudes de
contratação, demissões arbitrárias, ataques ao plano de pensão e aos convênios
de saúde, assédio moral e sobrecarga de trabalho têm sido parte do nosso
cotidiano, gerando altos índices de adoecimento entre nossos colegas e uma
total ausência de solução dos conflitos através da negociação coletiva. Esta
situação obriga os trabalhadores a buscar na Justiça o que deveria ser
resolvido de forma negocial aumentando, assim, o passivo trabalhista e
comprometendo a estabilidade futura”, denunciou aos acionistas Lucimara
Malaquias, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo e
funcionária do Santander (leia no final deste texto a íntegra do manifesto).
A Assembleia foi
realizada em Boadilla Del Monte, a cerca de 30 quilômetros de Madrid. Neste
mesmo dia, os bancários e Sindicatos espanhóis deflagraram greve-geral no país
para reivindicar reajuste salarial e a renovação do Acordo Coletivo de Trabalho.
A presidenta
mundial do Santander, Ana Botín, e demais membros do Conselho, apresentaram os
lucros e resultados aos acionistas, ignorando completamente a greve realizada
no lado de fora, organizada justamente pelos trabalhadores, os maiores
responsáveis pelos resultados.
Nos últimos 10
anos, o resultado para o acionista do Santander subiu 7 vezes. Em 2023, foram
distribuídos 5,5 bilhões de euros na forma de dividendos.
O movimento
sindical espanhol também participou da Assembleia e denunciou o completo
silêncio do banco com o que se passa no cotidiano dos trabalhadores.
Práticas imorais, ilegais e
antiéticas
Em um palco montado
para celebrar os resultados, diversas intervenções denunciaram práticas
imorais, ilegais e antiéticas. “O que demonstra que a sociedade civil está mais
atenta a práticas que ferem princípios éticos, a sustentabilidade, a vida e os
direitos humanos”, enfatiza Lucimara.
Chamou a atenção a
denúncia de representantes do Greenpeace, que cobraram ações concretas contra o
desmatamento da Amazônia.
Lucimara Malaquias
durante Assembleia Mundial de Acionistas
Outro ponto da Assembleia
que mereceu destaque foi a participação de um acionista que cobrou medidas de
combate contra a guerra e o genocídio na Palestina. Em sua fala, o acionista
acusou o Santander de manter negócios com empresas que produzem armas nucleares
e aviões de guerra. “O Santander tem mãos sujas de sangue”, afirmou.
Brasil citado por Ana Botín
Ana Botín citou o
Brasil diversas vezes, ressaltando a importância do país para o grupo, e
respondeu diretamente à Lucimara que em breve interlocutores do banco no Brasil
buscarão o movimento sindical para dialogar sobre os problemas denunciados.
“Queremos solução,
respeito e que o banco assine o Acordo Macro Global, e demonstre seu
compromisso com uma atuação socialmente responsável. Seguiremos denunciando em
todos os espaços os desmandos do Santander, nossa luta é por justiça! O mundo
está de olhos atentos para empresas que só se preocupam com seus lucros” afirma
Lucimara.
Manifesto do Sindicato na Assembleia Mundial
de Acionistas do Santander
O lucro extraordinário de 1.9 bilhões de euros no Brasil é 17%, do lucro
global do banco. Esse sucesso financeiro não pode obscurecer o comportamento do
Santander em relação aos brasileiros.
O Santander é um dos cinco maiores bancos que atuam em nosso país e
poderia almejar uma posição ainda mais destacada se tratasse os brasileiros com
o respeito e a responsabilidade social que merecem. Infelizmente, temos sido
testemunhas de práticas antissindicais recorrentes, denúncias e condenações na
justiça brasileira que mancham a reputação e comprometem a integridade da
instituição.
Fraudes de contratação, demissões arbitrárias, ataques ao plano de
pensão e aos convênios de saúde, assédio moral e sobrecarga de trabalho têm
sido parte do nosso cotidiano, gerando altos índices de adoecimento entre
nossos colegas e uma total ausência de solução dos conflitos através da
negociação coletiva. Esta situação obriga os trabalhadores a buscar na justiça
o que deveria ser resolvido de forma negocial aumentando, assim, o passivo
trabalhista e comprometendo a estabilidade futura.
Nós, trabalhadores brasileiros exigimos respeito as instituições
representativas, à justiça brasileira e o fortalecimento da negociação coletiva
como instrumento legítimo de solução de conflitos. Conclamamos os acionistas do
Santander a atuarem com responsabilidade social e práticas trabalhistas
humanizadas, reconhecendo que a negociação coletiva é o principal meio de
garantir um ambiente laboral justo e equilibrado, trazendo benefícios
significativos para todos os envolvidos.
Chegou o momento do Santander reavaliar as prioridades e reafirmar o
compromisso com valores que vão além do lucro financeiro. O verdadeiro sucesso
de uma empresa não se mede apenas pelos números em seus balanços, mas pela
forma como trata seus trabalhadores e contribui para o bem-estar da sociedade
em que está inserida.
Juntos, podemos construir um futuro melhor para todos nós.
Muito obrigada.
Fonte: Seeb SP