Nesta terça (31) tem manifestações contra taxa de juros altos do BC
31 de outubro 2023
Nesta terça-feira (31/10), data em que o Copom (Comitê de Políticas Monetárias) do Banco Central volta a se reunir para decidir mudanças na alta taxa básica de juros da economia brasileira (Selic), trabalhadores do movimento sindical voltam às ruas para cobrar juros baixos.
A economista da subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), na Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro), Vivian Machado, avalia que a tendência é de mais uma queda de 0,5%. Com isso, a Selic passaria dos atuais 12,75% para 12,25%.
“Lembrando que essa será a terceira queda consecutiva da taxa Selic depois de o Banco Central ter praticado, durante três anos seguidos, um aumento do índice que alcançou seu ponto máximo, em mais de 20 anos, em agosto do ano passado (13,75%) e se manteve assim durante um ano. Isso fez com que o país passasse a ter o maior nível do mundo de juro real (que é o resultado da Selic menos a inflação), afetando negativamente a economia e a geração de emprego”, completou.
Pressão dos trabalhadores
A Contraf-CUT faz parte das entidades que estão articulando manifestações nas redes sociais e nas ruas, no próximo encontro do Copom. “No primeiro semestre do ano, iniciamos a campanha #JurosBaixosJá, chamando a atenção da sociedade, com vídeos e cards educativos, sobre o impacto dessa política de juros extorsivos praticada pelo Banco Central e que impedem a geração de emprego e que o trabalhador tenha recursos para comprar sua casa própria, seu carro”, destacou a presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.
“A redução da Selic é extremamente importante para a economia brasileira e para os trabalhadores, porque estimula o investimento produtivo e a geração de emprego e renda. Os juros definidos pelo Banco Central são repassados para os clientes de todo o sistema financeiro, além de tirar recursos do Estado que poderiam virar investimentos públicos. Então, com a Selic alta, fica mais alto o custo do crédito para as pessoas e para as empresas, significa pagar mais caro pela casa própria, pelo carro. Logo, o inverso também acontece: a Selic mais baixa dinamiza a economia e melhora a vida da população e do setor produtivo, com mais recurso para gastar e investir”, explicou Juvandia.
Selic razoável
O economista Ladislau Dowbor, professor da PUC São Paulo, calcula que uma taxa básica de juros razoável para o país seria de 6% a 5% (menos da metade da atual), o que daria em termos de juros reais 1,5% de lucro, como é praticada em países da Europa e pelos Estados Unidos. “Os rentistas, que são uma minoria, ganham aqui no Brasil 8,5% de juros sem fazer nada, sem produzir nada. É um escândalo”, alertou.
Já o economista Marcelo Manzano, professor da Unicamp, avalia que um patamar razoável para o juro real no país seria entre 3% e 5%. “Os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne 38 países de economias mais avançadas, trabalham com juros mais baixos, mas infelizmente temos uma moeda menos valorizada, e isso obriga o país a trabalhar com um juro maior. Se baixar demais pode ocorrer a fuga de capital financeiro, pois seria mais confortável para os investidores manterem o dinheiro no exterior. Ainda assim, a atual taxa praticada pelo BC é desproporcional”, explicou em entrevista ao site da CUT.
Entenda
- O Copom, entidade do BC, se reúne por dois dias, a cada 45 dias, para definir a taxa básica de juros do país, chamada Selic. O próximo encontro será nos dias 31 de outubro e 1º de novembro.
- A Selic mais alta aumenta o custo de vida do trabalhador, os empréstimos para pessoa física e empresas e também a dívida do Estado, pois impacta nos juros dos títulos públicos.
- Os principais beneficiados com a Selic elevada são, portanto, os detentores dos títulos da dívida pública, que atualmente são as instituições financeiras.
- Diante do quadro, movimentos sociais, incluindo o movimento sindical, realizam desde o início do ano manifestações e campanhas com o hashtag #JurosBaixosJá.
- Em três anos, desde que Roberto Campos Neto assumiu a Presidência do BC, a Selic passou de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,75% em agosto de 2022 – nível mantido até agosto deste ano, quando, finalmente, o Copom reduziu em 0,50% o índice.
- Na reunião seguinte, dos dias 19 e 20 de setembro, a entidade voltou a realizar um corte de 0,50, levando a taxa aos atuais 12,75% ao ano.
- A expectativa do mercado na reunião de agora, entre 31 de outubro e 1º de novembro, é de um novo corte de 0,50% e que, continuando a tendência de corte, a Selic alcance 11,75% no final do ano.
- Economistas de tendência desenvolvimentista, entretanto, avaliam que uma taxa básica de juros razoável deveria, pelo menos, estar no patamar de um dígito.