Papel das bancárias para igualdade de gênero no país foi destaque em Seminário
30 de março 2024
A Secretaria de
Mulheres da Contraf-CUT (Confederação Nacional das Trabalhadoras e dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro) realizou, na quarta-feira (27/03), o Seminário
“Conquistas e desafios das mulheres bancárias”, na sede da entidade, em São
Paulo, que contou ainda com o lançamento da cartilha impressa “Avançamos
juntas!”, publicação disponibilizada desde o dia 8 de março para os Sindicatos
e Federações no formato online para download (acesse aqui).
“É muito importante
esta publicação, para mostrar o que nós temos, o resultado de nossas lutas e
também os temas de interesse das mulheres que vamos tratar na campanha, como
igualdade salarial entre homens e mulheres”, destacou a presidenta da
Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT (Central Única dos Trabalhadores),
Juvandia Moreira.
Ela lembrou que a
primeira grande conquista desta trajetória pelos direitos das mulheres do ramo
financeiro foi a instituição da mesa de Igualdade de Oportunidade, em 2000.
“Depois disso, veio uma série de conquistas, não só com artigos nas convenções
da categoria, mas com a presença nossa nos espaços de discussões, com impacto
do outro lado, nos bancos, que tiveram que aumentar a presença de mulheres nas
negociações. Todo esse processo faz parte do trabalho de um comando que é
plural e unitário nas lutas”, completou Juvandia, que também coordena o Comando
Nacional dos Bancários.
A secretária de
Mulheres da CUT Nacional, Amanda Corsino, destacou no encontro a atuação do
movimento sindical na construção da Lei de Igualdade salarial entre gêneros (n°
14.611/2023), de iniciativa do governo federal e que vem sofrendo ataques de entidades patronais.
“Um dos nossos
motes nas campanhas salariais é a igualdade salarial. Então, como classe
trabalhadora, nós vamos às ruas e ao judiciário para ampliar esse debate em defesa
desta lei. Jamais aceitaremos que uma mulher, que faz o mesmo trabalho de um
homem, ganhe menos”, disse, completando a importância de eleger mais mulheres
nos espaços de discussão política, como uma estratégia para que as leis por
igualdade e contra a violência de gênero efetivamente avancem no país.
“Somos mais da metade da população, também somos 28% mulheres negras, porém tem
apenas 25% dos políticos eleitos são mulheres nos parlamentos. Se continuarmos
no ritmo como estamos, vamos demorar 145 anos para ter paridade na política”,
comentou a presidenta da Seeb-SP e coordenadora do Comando Nacional dos
Bancários, Neiva Ribeiro. “Esse quadro precisa mudar, porque está comprovado
que onde as mulheres estão, na política, as políticas sociais melhoram, porque
entendemos que tipo de ações e de país precisamos para chegar na igualdade de
gênero”, completou.
No evento, também
foram avaliados os trabalhos do Basta! Não irão nos Calar!, programa de atendimento jurídico
especializado e humanizado às mulheres em situação de violência doméstica,
criado em 2019 e expandido, atualmente, pela Contraf-CUT para doze entidades,
espalhadas entre as cinco macrorregiões do país. “Esse programa existe não só
para atender as bancárias, mas também a sociedade que recebe muito do que
conseguimos na nossa luta sindical. Só falando da violência de gênero e do
assédio no dia a dia é que vamos conseguir uma sociedade melhor”, destacou
Fernanda Lopes, secretária de Mulheres da Contraf-CUT.
A presidenta do
Instituto Lula e ex-presidenta do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
do Ramo Financeiro de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, fez um
importante balanço da participação da mulher e conquistas delas nos espaços de
decisão do movimento sindical. “Desde a criação da CUT, nos anos 1980, abrimos
espaço com muita luta e avançamos significativamente. Mas ainda temos muito a
avançar. A primeira vez que duas mulheres se tornaram coordenadoras do Comando
Nacional dos Bancários, por exemplo, foi somente a pouco tempo, em 2018”,
ressaltou.
A presidenta da
Fetec-SP (Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito de São Paulo) e
secretária de Formação da Seeb-SP, Aline Molina, avaliou que é preciso
consolidar os avanços obtidos, ao mesmo tempo em que se discutem novos direitos
às mulheres. “Estamos lidando, do ponto de vista histórico, com direitos muito
novos. Foi apenas em 2023, por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, de uma
ministra mulher, Carmen Lúcia, é que a tese de legítima defesa da honra para
crimes de feminicídio foi derrubada”, pontuou.
A Conselheira de
Administração Representante dos Funcionários (Caref), no CA (Conselho de
Administração) do Banco do Brasil, primeira mulher negra a assumir este cargo
na instituição, Kelly Quirino, aprofundou o debate da importância de ampliar a
participação de mulheres em cargos de gestão. “Quando uma mulher sobe, puxa a
outra para cima. Exemplo disso é que só após 115 anos de história do BB
conquistamos a primeira mulher na presidência, Tarciana Medeiros, que está
implementando um programa para ampliar o percentual de mulheres nos cargos de
gestão”, completou.
Fernanda Carísio,
ex-presidenta do Seeb-Rio de Janeiro e da CNB-CUT (Confederação Nacional dos
Bancários), hoje Contraf-CUT, analisou a necessidade de lembrar às bases a
atuação do movimento sindical para as conquistas trabalhistas que hoje são
consideradas como se sempre tivessem existido. “Entrei no BB em 1973, no
segundo concurso que admitiu mulheres. Naquela época, o principal mote da luta
da mulher era creche no local de trabalho ou auxílio-creche. Então, várias
questões que hoje são normais, como o auxílio-creche, VA e VR, foram
conquistadas aos poucos, com enorme dificuldade. Nós precisamos lembrar disso
sempre e recontar a história, para reforçar a importância do movimento
sindical”, disse.
A recém-eleita representante dos empregados no Conselho de Administração da
Caixa, Fabiana Uehara Proscholdt, observou que os trabalhadores devem se manter
alertas para não haver retrocessos em conquistas. “Não faz muito tempo, em
2018, os bancos tentaram tirar o direito à PLR das mulheres que usaram a
licença-maternidade e nós conseguimos impedir. Esse exemplo mostra que a defesa
dos direitos já conquistados e a ampliação deles é um desafio que permanece”,
lembrou.
Mesa “Análise de
conjuntura e desafios nas cidades, para a construção de um novo Brasil”, com
participação de Suzineide Rodrigues, hoje superintendente Regional do Trabalho
do Estado e primeira mulher negra a assumir tal cargo
O seminário contou
com a presença da secretária Nacional de Autonomia Econômica e Política de
Cuidados, ligada ao Ministério da Mulher, Rosane Silva, que veio do movimento
sindical. “Historicamente, a categoria bancária foi fundamental para os avanços
trabalhistas no Brasil. É a única categoria que tem negociação nacional, o que
é muito importante. Sempre nos espelhamos, dentro da CUT, na experiência das bancárias,
e isso está ligado ao protagonismo das mulheres bancárias”, lembrou. “A lei
igualdade entre homens e mulheres [sancionada pelo presidente Lula em julho de
2023], só foi aprovada porque teve uma luta das mulheres, principalmente das do
movimento sindical”, completou.
Mesa “Analisando
nosso presente e construindo nosso futuro”, que contou com a participação da
secretária Nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados, ligada ao
Ministério da Mulher, Rosane Silva
A ex-presidente da
Seeb-Pernambuco (PE) Suzineide Rodrigues, hoje superintendente Regional do
Trabalho do Estado e primeira mulher negra a assumir tal cargo, ressaltou o
papel do movimento sindical bancário não apenas para o avanço de leis de
proteção de mulheres contra a violência de gênero e para direitos iguais no
mundo do trabalho, mas também para a democracia no país.
“Ter um presidente
eleito preocupado com as mulheres, com a reconstrução do Brasil, é fundamental.
Porém, mesmo com todo este movimento, estamos assistindo ao fortalecimento da
extrema-direita, que cria uma cultura do individualismo”, disse. “Não fosse a
formação do movimento sindical, nas bases e que reflete na sociedade, não
estaríamos hoje aqui, discutindo todos esses temas. Abrimos as portas para as
mulheres que estão nos espaços de poder e precisamos nos fortalecer ainda mais,
porque ainda somos muito pouco nas cadeiras das corporações e dos congressos,
como mulheres, mulheres negras e mulheres indígenas”, concluiu.
Fonte:
Contraf-CUT