Depois de seis anos perdendo direitos conquistados com muita luta, enfrentar arrocho salarial e desemprego, a classe trabalhadora precisa votar consciente nas eleições deste ano para eleger brasileiros e brasileiras comprometidos com os interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras.
E para se contrapor as bancadas parlamentares como a patronal, formada por 196 deputados federais e 38 senadores, que aprovaram propostas como a reforma Trabalhista, que acabou com mais de 100 itens da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), e a previdenciária, que acabou com o sonho de aposentadoria de milhões de trabalhadores, a CUT lançou este ano a candidatura de 48 dirigentes para cargos de deputado federal, estadual e senador.
Eles e elas são sindicalistas da direção nacional da CUT, de várias entidades filiadas à Central, como a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Apeoesp (Sindicato do Professores no Ensino Oficial de São Paulo), além de dirigentes de vários sindicatos e de CUTs estaduais, não somente ligados ao PT, mas a partidos como Psol, PCdoB e PSTU.
Somente da Direção Nacional da CUT, são sete representantes, incluindo a Secretária-Geral da Central, a
trabalhadora da agricultura familiar Carmen Foro, candidata a deputada federal pelo PT do Pará.
Também são candidatas a secretária de Políticas Sociais da CUT,
a servidora pública Jandyra Uehara, que concorre a uma vaga como deputada estadual em São Paulo pelo PT e a
secretária de Organização e Política Sindical Graça Costa, também servidora pública municipal, candidata a deputada federal pelo PT do Ceará.
Concorrem ainda o presidente da CUT Rio de Janeiro, Sandro Cezar, candidato a deputado federal pelo RJ; Douglas Izzo, presidente da CUT-SP, candidato a federal por São Paulo; Henrique Lopes do Nascimento, presidente da CUT-MT, candidato a deputado estadual; Maria Euzébia Lima da CUT Goiás, candidata a deputada estadual; e Marize Carvalho, da CUT Bahia candidata a federal, todos pelo Partido dos Trabalhadores.
Veja aqui a lista completa dos candidatos da CUT nas eleições 2022
Voto livre e democrático
A Constituição de 1988 rege, em seu artigo 14° que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, ou seja, cada cidadão e cada cidadã tem o direito de escolher os candidatos de acordo com sua vontade própria.
Cabe à representação dos trabalhadores, também de forma democrática, a orientação sobre quais candidatos cada brasileiro trabalhador tem à sua disposição, que estejam alinhados aos seus interesses. Por isso, o secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo, reforça que representantes dos trabalhadores no movimento sindical são aqueles que também representarão os trabalhadores no Congresso e nas Assembleias Legislativas.
“Alguém que esteve a vida toda ligado ao movimento de representação dos trabalhadores, dentro dos sindicatos, certamente não vai, de uma hora para outra, deixar de defender os direitos da classe. Quanto mais trabalhadores tivermos lá, mais haverá condições para que nossas reivindicações sejam atendias no parlamento”, ele diz se referindo ao Congresso Nacional e as assembleias.
“Patrão escolhe patrão. Trabalhador escolhe trabalhador. Temos um leque grande de trabalhadores que se colocaram à disposição” - Ariovaldo de Camargo
“Entender a história de cada um e fazer a melhor escolha é o que temos que fazer, principalmente este ano, que é o ano de nossas vidas”, acrescenta o dirigente.
“Será um minuto para tomarmos a decisão do voto na urna e quatro anos de consequência de uma má escolha” - Ariovaldo de Camargo
Espaços de poder
O Congresso Nacional, Senado e as Assembleias Legislativas são os espaços de poder de onde a maior parte das leis que regem a vida de cada brasileiro é pensada, debatida e aprovada (ou não). Por isso, as escolhas conscientes devem, além de passar pela liderança maior do país – o presidente da República – pelos parlamentares.
Os nossos candidatos estão alinhados com os trabalhadores. Eles é que defenderão nossas pautas”, reforça o secretário de Administração e Finanças da CUT ao explicar que é preciso ter coerência nas escolhas de candidatos.
Ela reforça ainda que esses espaços – Congresso Nacional, Assembleias estaduais, bem como as Câmaras de vereadores – fazem parte da organização da classe trabalhadora.
“A organização da classe trabalhadora não se dá somente nos locais de trabalho e sindicatos, mas também nos espaços políticos de poder, por isso, a consciência na hora do voto é que vai definir os rumos das lutas da classe trabalhadora”, ele diz.
Alerta sobre o voto
“Não podemos eleger candidatos a deputados, federais e estaduais que, em sua maioria, pensem diferente do presidente ou do governador que vamos escolher”, ele diz.
Com uma composição coerente, prossegue o dirigente, obtém-se bancadas que dão sustentação às políticas progressistas, ou seja, tenham foco nas pautas dos trabalhadores. Daí a importância em conhecer as plataformas e propostas apresentadas pelos candidatos.
“Muitas vezes a classe trabalhadora acaba fazendo a escolha de representantes que não têm interesse em resolver seus problemas, lutar e garantir seus direitos”, alerta o dirigente. “O empresário tem outra opinião sobre como deve ser, por exemplo, o contrato de trabalho, em geral sem direitos, um latifundiário entende direitos trabalhistas dos rurais de outra forma, que não é a defendida pelo movimento sindical, ou seja, os interesses deles, na grande maioria das vezes, não vão de encontro aos nossos”, pontua Ariovaldo.
Representação dos trabalhadores
Eleger candidatos comprometidos com os interesses dos trabalhadores, como os candidatos da CUT, significa não somente a garantia de direitos trabalhistas, mas acesso a políticas públicas de proteção social bem como diretrizes que estabeleçam os rumos da economia e consequentemente do desenvolvimento do país. O reflexo se dá no dia a dia da classe trabalhadora, com emprego, renda, qualidade de vida, saúde, educação, segurança, etc.
Já nos anos 1990 a CUT dava força a uma campanha “Trabalhador vota em trabalhador”, cujo título, autoexplicativo, visava conscientizar sobre o voto. E o movimento sindical, ao longo dos anos, formou lideranças que migraram para a política a fim de dar continuidade ao trabalho árduo de luta de classes oriundo no movimento sindical.
Várias foram os sindicalistas que se tornam grandes lideranças políticas. O maior exemplo é o ex-presidente Lula (PT), que foi metalúrgico do ABC – o operário que chegou à Presidência da República, tornando real o princípio fundamental da Constituição de 1988, que em seu artigo 1° diz: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Além dele, vários foram os sindicalistas eleitos pelos trabalhadores para representá-los nos espaços de poder. Para as eleições deste ano, não é diferente. O movimento sindical cutista também formou sua base de candidatos para defender os trabalhadores.
Recuperando o estrago até aqui
Os representantes dos trabalhadores eleitos serão aqueles que, no próximo mandato – os próximos quatro anos –, terão o papel de reconstruir o Brasil não só barrando tentativas de retiradas de direitos por parte de bancadas conservadoras, mas também revertendo ‘estragos’ feitos ao longo dos últimos anos, reforça o secretário de Administração da CUT.
“Precisamos de uma bancada que consiga rever o que já foi feito, como a reforma Trabalhista, para que possamos construir uma legislação em que os trabalhadores tenham segurança no trabalho e que os anseios da classe sejam atendidos”, diz o dirigente.
Por isso, reforça, é importante ter consciência na hora do voto, escolher candidatos que, de fato, representarão os trabalhadores.
Quem foi quem
Quem votou em projetos contra os trabalhadores? Quem ajudou a aprovar propostas que geraram retrocessos e retiradas de direitos? Quais foram os deputados e senadores que, de 2018 para cá, compactuam com as crises enfrentadas pelo país? Essas são algumas perguntas que o DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) reponde por meio da plataforma “
Quem Foi Quem no Congresso Nacional”
Pela plataforma é possível pesquisar o nome do parlamentar com opções de estados, mandatos (em exercício ou anteriores), e por partidos. Ao consultar é exibida uma lista de pautas de relevância para a classe trabalhadora e como votaram os parlamentares nessas pautas.
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Quase metade do Congresso Nacional votou contra os interesses dos trabalhadores
Bancada dos trabalhadores
Em 2018, o PT, mesmo em meio a uma campanha intensa de ataques pela mídia e pelos setores conservadores, conseguiu formar a maior bancada do Congresso, com 56 deputados. Mesmo assim, havia um outro – e principal – obstáculo para defender os trabalhadores, o presidente Jair Bolsonaro (PL), então eleito e que representava (e representa) a extrema direita no país, ideologia calcada no autoritarismo, que relega à classe trabalhadora um papel de submissão, o que representa a supressão de direitos, de igualdade, trabalho decente, falta de acesso a serviços públicos, etc.
Ainda assim, o PSL, hoje União Brasil, e então partido de Bolsonaro elegeu 52 deputados. Em 2014, o partido havia elegido apenas um. O resultado de um Congresso que teve composição de maioria conservadora foi sentido pela classe trabalhadora por meio de várias pautas que representaram retrocessos históricos como a reforma da Previdência que tornou o sonho da aposentadoria em uma meta quase impossível de ser alcançada pelos trabalhadores.
Bancadas que não defendem os interesses dos trabalhadores
Apelidado de BBB, o conjunto das bancadas da bala, bíblia e do boi têm essas denominações por defenderem interesses armamentistas (bala), religiosos e fundamentalistas (bíblia) e do agronegócio (boi). São deputados e senadores de direita cujas agendas estão em sintonia com o conservadorismo e com a defesa de interesses contrários aos direitos da classe trabalhadora.
Bala: é a frente parlamentar composta por políticos que defendem o armamento da população, a flexibilização de leis relacionadas a armas e contra políticas desarmamentistas. O discurso desses parlamentares, em geral, é no sentido contrário aos direitos humanos com características de violência.
Boi (ou ruralista): atua em defesa dos interesses de proprietários de grandes latifúndios, contrários, por exemplo, à reforma agrária e a projetos de preservação do meio-ambiente
Bíblia (ou bancada evangélica): baseada em pautas conservadoras, de costumes, como o conceito da ‘família tradicional’, devoção a Deus ‘acima de tudo’, inclusive de qualquer preceito democrático essencial à sociedade, a banda da bíblia, também conservadora, é de direita e contrária à diversidade, igualdade de gênero e opositora contumaz de pautas como a descriminalização do aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e do Estado Laico. A bancada se caracteriza pela perseguição a homossexuais, inclusive tratando como ‘doentes’ as pessoas LGBTQIA+. É favorável também aos conceitos de submissão das mulheres aos homens se opondo às pautas feministas.
No Congresso, porém, há outras bancadas como os grupos de deputados e senadores ligados
ao sistema financeiro e ao setor empresarial, que igualmente não defendem interesses da população – a classe trabalhadora – e sim, dos grupos que financiaram suas campanhas eleitorais.
Por Andre Accarini, com edição de Marize Muniz/CUT Nacional